quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O que pensar na preparação física de judocas

Para se chegar aos resultados almejados nas principais competições de judô, há de se considerar todas as variáveis que compõe um treinamento de alto nível. Dentre estas variáveis gostaria de fazer considerações sobre a preparação física, peça essencial para a sustentação da condição técnica e tática do atleta.
Com as últimas alterações nas regras das competições de judô determinadas pela FIJ, sustentadas por meio de arbitragem rigorosa, orientadas a punir severamente o atleta que contrariá-las dentro do shiai-jô, trouxe como mudança combates mais dinâmicos e interessantes de se assistir. Paralelamente, com o aumento de meetings e campeonatos internacionais, a transmissão de competições de judô pela televisão também tem aumentado, o que vem acontecendo como tendência desde 2000 com a adoção do quimono azul. Este fator cria a necessidade de se trabalhar em função de um calendário competitivo.


A condição de destaque do judô brasileiro no cenário internacional tem caminhado para horizontes mais profissionalizados onde a preparação física deve ser conduzida por preparadores físicos que compreendam a modalidade em nível biológico, antropológico e social, a fim de se conectar com o universo do judô e suas redes, que vai além do aspecto competitivo.
Disse o mestre Jigoro Kano que “o judoca não se aperfeiçoa para lutar, luta pra se aperfeiçoar’, e é neste pensamento que o trabalho de preparação física para judocas de alto nível deve ser conduzido. Dar suporte ao randori e shiai, fundamentais para o treinamento e competição, respeitando as limitações e aumentando as potencialidades do atleta, compreendida em curto, médio e longo prazo.

QUAL O PONTO DE PARTIDA DA PREPARAÇÃO FÍSICA DE JUDOCAS?


Os estudos sobre a intermitência permitiram aos preparadores físicos de judô conhecer melhor as respostas fisiológicas geradas durante os combates, o que de certa forma possibilitou ao treinamento maiores bases científicas. No entanto, sabe-se que a preparação física para judocas, mesmo que adequada, só se torna eficiente quando estamos diante de atletas de elevado nível técnico-tático. Paralelo aos treinamentos que reproduzam a situação de intermitência há a necessidade de se trabalhar a força e a potência muscular em função dos combates exigirem movimentos rápidos e potentes.


Durante a competição os esforços gerados são de alta intensidade, a duração é indeterminada e o intervalo de descanso entre os combates na maioria das vezes é curto, o que resulta em recuperação incompleta da fadiga neuromuscular. Um trabalho de preparação física que melhore os componentes intermitentes envolvidos e o treinamento de força e potência deve estar baseado na interpretação destas condicionantes.

COMO PENSAR O TREINAMENTO DE FORÇA E POTÊNCIA?

Para elevar o nível de força e potência durante os combates, preparadores físicos têm procurado apoio nos exercícios de levantamento de peso olímpico. O interesse por estes exercícios deve se ao fato de serem exercícios multiarticulares, que promovem aumento da força relativa potencializado a capacidade de gerar força e potência muscular em tempo mínimo, na mobilização dos grupos musculares em nível superficial, intermediário e profundo. O aumento da força relativa e a da velocidade de aceleração nos movimentos necessitam de exercícios que promovam aceleração do objeto (colega de treino ou peso livre) a ser levantado sem a necessidade de desaceleração no final do movimento.

Veja este vídeo sobre a preparação da equipe chinesa de levantamento de peso olímpico.



Veja este vídeo sobre a ciência do levantamento de peso olímpico:


No entanto, para se obter um melhor benefício de exercícios que combinem força e velocidade, como os do levantamento de peso olímpico, é necessário adquirir conhecimentos técnicos básicos para se ensinar de forma correta, assim como, conhecer os tipos de exercícios para garantir variabilidade durante o treinamento e segurança na execução técnica. Uma técnica apurada permite levantar pesos maiores com segurança e elevar os níveis de recrutamento neuromuscular com máxima eficiência e mínimo de esforço.

  


É bom considerar que nem sempre se devem aplicar os mesmos exercícios para atletas diferentes. Esta questão está relacionada com o fato de haver atletas com limitações articulares, lesões e encurtamento de determinados grupos musculares. Neste caso, o mais sensato seria realizar determinados exercícios para:

  • Aperfeiçoamento nas técnicas de levantamento de peso olímpico;

  • Correção postural;

  • Correção de déficits de força bilateral com reequilíbrio muscular;

  • Ganhos de flexibilidade e mobilidade articular para músculos encurtados e articulações com limitações nos movimentos.

    QUAL A VANTAGEM EM RELAÇÃO AO TREINAMENTO DE FORÇA COM MÁQUINAS?

    As máquinas foram criadas para treinar músculos e não movimentos. Modalidades abertas como o judô, necessitam trabalhar movimentos que envolvam coordenação, equilíbrio e controle, seja com ou sem resistência.

     
    Ginásio com aparelhos de musculação.

    As máquinas eliminam qualquer condição de estabilização, controle e equilíbrio, pelo fato de operarem em um padrão de movimento fixo e criar a necessidade do atleta se ajustar à máquina, eliminando a participação de todo o corpo principalmente dos músculos sinergistas.

    Ginásio de levantamento de peso olímpico.


    PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO DE FORÇA E POTÊNCIA

    Os treinamentos com exercícios de levantamento de peso olímpico poderão ser realizados de duas a três vezes no microciclo semanal, de 01h00 a 01h30 de atividade. A distribuição do planejamento do treino de força e potência poderá ser de 03 meses para o período preparatório (janeiro, fevereiro e março) e 03 meses para o período competitivo (abril, maio e junho) somando o 1º semestre. A partir do segundo semestre será realizado trabalho de manutenção da condição física atingida e aprendizado de novos exercícios.


    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    No judô de alto nível atual, não há mais espaços para a aplicação de conteúdos de cargas sem o profundo conhecimento da modalidade, tanto em seus aspectos gerais quanto específicos. Exige-se dos preparadores físicos a aplicação de exercícios desenvolvidos dentro da especificidade fisiológica e motora do judô. A melhora nos aspectos do treinamento da capacidade resistência de força, por exemplo, deve ser desenvolvida dentro do conceito tático-físico e não por meio de exercícios isolados a fim de garantir somente o estímulo fisiológico da modalidade. Assim sendo, na próxima postagem abordarei sobre a sessão de treino e o que acontece no organismo do atleta quando este recebe um conteúdo de preparação e o que determina a seleção de um ou outro conteúdo de preparação. É importante consideramos que o treinamento esportivo é, em termos gerais, um processo permanente de resposta do organismo à carga de trabalho cujo objetivo é o aumento das potencialidades energéticas.


    Atenciosamente,



    Everson Indio

    6 comentários:

    1. é isso awe Indiaum to aguardando o proximo.
      até.

      ResponderExcluir
    2. muito bom, seu estudo Indio.
      um abraço
      Ferreira

      ResponderExcluir
    3. Obrigado aos companheiros e gostaria que estas informações fossem divulgadas aos demais judocas a fim de garantir maior conhecimento sobre o processo de preparação esportiva.
      atenciosamente
      Everson Indio

      ResponderExcluir
    4. Olá companheiro; por enquanto passei por aqui para fazer uma rápida visita mediante o extenso conteúdo do seu blog. Pode me aguardar que estarei lendo e postando mesagens para você.
      Grande abraço.
      Antenor

      ResponderExcluir
    5. Manda bala, Indião. Tá ficando bom....

      ResponderExcluir
    6. Gostaria de saber se vc ministra curso de lpo. Se sim, qual o local e as datas. Desde já agradeço.
      guilherme.senna@globo.com

      ResponderExcluir

    OBRIGADO PELOS COMENTÁRIOS.