quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Considerações sobre a preparação física de judocas

Entre as décadas de 1980 a 1990 os judocas brasileiros se utilizavam com freqüência das corridas de curta, média e longa distância na preparação física geral. Este método, usado principalmente por Aurélio Miguel, influenciou na preparação física de uma geração de judocas brasileiros. Apesar de contribuir para a melhoria da condição cardiorrespiratória, este método não entra em acordo com o princípio da especificidade , afinal “lutador tem que lutar e não correr”.

É fato que a condição cardiorrespiratória é essencial para dar suporte aos intensos combates realizados durante o randori ou o shiai, além de contribuir para melhor recuperação entre os combates na remoção do ácido lático gerado. Entretanto, no judô esta condição cardiorrespiratória se desenvolve na presença de um oponente em ambiente aberto e intermitente , e não em um ambiente fechado e contínuo sem a presença de um oponente, a exemplo das corridas . O treinamento de modo intermitente da capacidade cardiorrespiratória, orientada pelo princípio da especificidade, deve reproduzir as situações encontradas no shiai.

A preparação física de judocas de competição é uma verdadeira alquimia ao deparamos com a necessidade de se trabalhar capacidades físicas distintas, a exemplo de força e resistência, que mobilizam diferentes sistemas de produção de energia. Se a condição cardiorrespiratória se destaca pelo desenvolvimento da capacidade aeróbia, apoiada no recrutamento de fibras musculares de contração tipo I, a força e a potência motora se destacam pelo desenvolvimento da capacidade anaeróbia, lática e alática, apoiadas no recrutamento das fibras musculares de contração tipo IIa e IIb. Como trabalhar estas diferentes capacidades, mas que se somam na exigência dos combates ?

Ao abordarmos a força e potência como componente do desempenho, verifica-se a utilização de exercícios de musculação na preparação física dos atletas. Estes exercícios são predominantemente de cadeia cinética aberta, monoarticulares e realizados em ambiente fechado. Os movimentos potentes das técnicas de judô são de cadeia cinética fechada, multiarticulares, realizados em ambiente aberto.

Os exercícios de musculação oferecem pouco quando comparada aos exercícios de levantamento de peso olímpico, que são predominantemente de cadeia cinética fechada, multiarticulares, realizado em ambiente fechado, além de serem considerados pela literatura científica os que geram maiores picos de potência. Modalidades abertas como o judô, necessitam de movimentos que envolvam potência, coordenação, flexibilidade, equilíbrio e controle.

Apesar da musculação e do levantamento de peso olímpico não reproduzirem os movimentos específicos, o trabalho de força e potência é fundamental para judocas competidores . No entanto, para melhor benefício dos exercícios de levantamento de peso olímpico, é necessário aprendizado técnico correto que possibilita aumentar os pesos com segurança e estimular a capacidade de recrutamento neuromuscular com máxima eficiência e mínimo de esforço.

Executados de modo seguro e coordenado melhoram a potência motora, promovem a correção postural, além de ajudar na prevenção de lesões com o fortalecimento das estruturas osteoligamentares e ganhos de flexibilidade e mobilidade articular, principalmente da região da cintura pélvica e escapular . Os exercícios de levantamento de peso olímpico promovem aumento da potência devido à capacidade de mobilização das cadeias musculares em nível superficial, intermediário e profundo.

domingo, 5 de setembro de 2010

A cultura do treino e seus reflexos no desempenho

Seção de treino é o nome que se dá ao treinamento diário orientada pelo técnico, no caso do judô a figura do sensei. Gostaria de refletir sobre a condução do treino de judô. Durante os treinamentos são realizados corridas de aquecimento, quedas, exercícios específicos, entradas de golpe, randori.


Centro de Treinamento de Bastos, SP

 Sugiro que paralelo ao randori, que é a lapidação para o shiai, a competição, devam ser trabalhados exercícios tático-físicos em condições intermitentes. Tais exercícios consituem-se em dividir o randori em fases:

• Domínio de pegada de manga;

• Domínio de pegada de gola;

• Domínio de pegada manga e gola;

• Disputa de pegada em posição invertida (canhoto vira destro, destro vira canhoto) e assim vai.

• Defesa com movimentação.

O treinamento técnico-tático deve ocupar boa parte do treinamento de judocas de alto nível, considerando que é pelas formas de pegada ou kumi-kata que se controla o combate. Entre os exercícios de estratégia estão:

Sara Menezes busca domínio de pegada contra judoca belga.

• Como dominar a manga?

• Como dominar a gola?

• Como dominar manga e gola?

• Quando e como inverter o jogo da posição destro pra canhoto ou canhoto pra destro?

• Como trabalhar a inspiração-expiração, o ki, para a entrada de golpe?

• Recuperação de posição, movimentação e transição para o solo.

A cultura do treino se constitui na forma de conduzir o treino e seus reflexos na competição, os conteúdos gerados na orientação física, técnica é tática. Questões sobre a cultura do treinamento entre outras são fundamentais no judô de competição onde, devido ao nivelamento entre os atletas, vence a competição quem erra menos e se arrisca mais.


Até breve

Everson Indio